quinta-feira, novembro 18, 2004

Um turista em Bali

Depois de umas semanas de silêncio estou de volta a este espaço de partilha.
O meu Curso sobre Sistemas de Trauma em Israel terminou. Balanço final: Nota 10!
Foram 4 semanas de uma intensidade fora do comum: seminários, workshops, simulações, visitas de estudo, turismo e sempre em constante partilha!
Após um dia a matar saudades em Portugal e trinta horas de viagem cheguei a Bali para, o que pensava que iria ser, um dia de prazer e descanso total antes de Timor.
Mas a Indonésia é, no mínimo, uma pequena armadilha para o turista que chega sem dormir; que não preencheu os papeis todos que devia; que tem que tem de esperar 15 minutos em duas filas; carregado com uma mochila cheia de livros e uma mala de computador; que lê repetidamente que a pena para quem tentar "importar" droga para a Indonésia é a morte; e que começa a ficar preocupado com a segurança do local da sua mala que, com toda a certeza, já não está no tapete com todas as outras malas...
Ora este turista, quando finalmente passa todo o controlo da fronteira, sem grande surpresa mas com alguma preocupação, constata que de facto já não há qualquer tapete de malas ainda rolar. Vai até ao fundo da pequena sala do aeroporto onde vê um grupo de cerca de 5 malas e outros tantos indivíduos locais, mas a sua mala, nada.
Então começa a extorsão. Um dos tipos rapidamente se oferece para ajudar enquanto pega num carrinho de aeroporto, dirige-se a um segundo grupo de malas, pega na mala do turista em questão, passa um segundo controlo de fronteira com ele (fazendo apenas um daqueles pequenos acenos com a cabeça ao polícia) e dirige prontamente o turista a uma casa de câmbio. Este, que pensava que ia poder usar os seus dólares no país, vê-se obrigado a comprar rupias, que não faz a mínima ideia do câmbio correcto.
Com 160000 rupias no bolso (aqui o turista não foi roubado: por um dólar compram-se 8000 rupias) o indivíduo pede agora descaradamente ao turista uma gorjeta pela grande ajuda que lhe deu. Este ainda desnorteado decide dar-lhe o bem menos precisoso que tem neste momento: euros; o seu azar é que a nota mais pequena que tem é de 20!
Depois, é encaminhado para uma cabine de táxis (sem poder escolher os azuis celeste, os mais honestos, que uns amigos lhe havia recomendado), compra uma viagem até ao hotel por 75000 rupias (ainda sem a noção de que quantia isto realmente é) e um segundo indivíduo (que o turista pensava ser o motorista do táxi) encaminha-o até ao veículo.
Umas dezenas de metros mais à frente, debaixo de um calor insuportável para o turista carregado (sim, que o turista jamais deixou de carregar e vigiar com sete olhos todas as suas malas), este chega próximo do táxi donde sai de dentro o motorista do táxi. Então o segundo indivíduo pede-lhe uma atençãozinha em euros mas o turista já não cai nessa, e despacha-o prontamente com 5000 rupias (convencido que é pouco dinheiro). Cansado, entra para o banco detrás do táxi na esperança de que mais nenhum dos simpáticos e prestáveis locais o tente roubar.
Depois de um abandono intempestivo num hotel errado, o turista apanha outro táxi e chega finalmente (agora com bastante convicção e rejeitando a ajuda dos empregados) ao seu destino.
Eis que tem pela primeira em quase três horas de estadia no novo país uma sensação de paz e bem estar. Diz a empregada do hotel num inglês muito castiço: "Esperamos que não se importe mas como estamos lotados (medo nos olhos turista) vai ficar instalado numa das nossas suites executivas."
Turista: ;)

2 comentários:

Anónimo disse...

Ó miúdo,
Nota 10 em quanto? 10 ou 20???

Bernardo Bollen Pinto disse...

10/10!